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domingo, 2 de janeiro de 2011

Escrever um DIÁRIO


"O diário é uma espécie de bilhete de identidade. Porque é que o “bilhete de identidade” é importante de se escrever? Porque, para se contar qualquer coisa, tem de haver um olhar e o olhar pertence a uma pessoa. Para sabermos para onde vamos, no decurso da narração, temos de saber de onde vimos, temos de conhecer as nossas raízes, humanas e sociais, temos de partir dessas raízes para construirmos o mundo da narrativa.(...)

O que se deve contar, na maior parte das vezes, está muito perto de nós e, para ser contado, exige uma grande simplicidade. A recordação de um passeio à montanha, a história de um parente, o tormento de uma noite de insónias podem ser fontes de narração muito mais ricas do que qualquer aventura mirabolante.(...)
Um exemplo prático: imaginemos que temos que descrever um passeio que demos numa praia, num dia de Inverno em que nos sentíamos indecisos, melancólicos. Se cedermos à tentação desses diabinhos que são os adjectivos, o resultado pode muito bem ser este: “O mar mugia, as enormes vagas rugiam tenebrosas, eu ia andando e, sobre mim, uma gaivota de asas cândidas e inocentes sulcava o ar, e o meu coração palpitava com misteriosas vibrações.”

Se atendermos, porém, à simplicidade e à precisão poder-se-á chegar a esta descrição: “O mar e o céu estavam escuros. O meu humor, suspenso. Debaixo dos meus pés rangiam as conchas, soprava nas mãos e as mãos continuavam geladas.” No segundo caso, o impacto é mais forte, quase se pode respirar a tristeza e a sensação de fragilidade, e o frio que vai penetrando em nós.
O primeiro exemplo era visto do exterior, ou seja, como se imagina que deve ser representado um dia triste à beira-mar (as ondas, a gaivota, o coração tocado por qualquer coisa que se desconhece). O segundo, pelo contrário, era contado do interior. O que sente uma pessoa que caminha ao longo de uma praia, num dia de Inverno? Frio provavelmente (as mãos), solidão (o rumor das conchas debaixo dos pés), melancolia (a escuridão do mar).(...)"

A todos uma boa escrita!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Diário de Anne Frank




"Espero poder confiar inteiramente em você, como jamais confiei em alguém até hoje, e espero que você venha a ser um grande apoio e um grande conforto para mim.?" Assim, Anne Frank inicia o seu famoso diário, que ela escreveu no esconderijo, que ficava na casa de trás (1942 a 1944).

Oferecido pelo pai no dia do seu aniversário, a jovem deu ao diário o nome de Kitty. Kitty era sua única amiga dentro do Anexo Secreto.
Inicialmente, o diário começa por ser uma descrição de eventos normais na vida de qualquer adolescente, descrevendo mais tarde as suas condições de vida: a angústia permanente, o medo de serem descobertos, a comida escassa, a nova rotina, a que tiveram que se submeter (no horário laboral no escritório apenas podiam comunicar por sussurros, nunca podiam utilizar a casa de banho); e contudo, está sempre presente o reconhecimento da coragem dos amigos não - judeus (antigos empregados do pai), que não hesitavam em ajudá-los, mesmo arriscando a vida: “Nunca deixam transparecer que somos um fardo - e não há dúvida que somos - nunca se queixam das maçadas que estamos a causar. Todos os dias sobem até aqui, falam com os homens sobre o negócio e a política, com as senhoras sobre as dificuldades do governo da casa e connosco, os jovens, sobre livros e jornais. Entram sempre de cara satisfeita, não se esquecem, nos dias de festa das flores e das prendas e estão sempre prontos a ajudar. Não devemos esquecer nunca, apesar de todas as heroicidades dos campos de batalha e de toda a luta contra os opressores, os sacrifícios dos nossos amigos, aqui, junto de nós, as provas diárias de simpatia e amor!"

Em Abril de 1944, Anne ouve na rádio que a Rainha Guilhermina deseja que, no final da guerra, sejam escritas crónicas sobre este período histórico. Entusiasmada, decide reescrever o diário, desejando publicar parte dele.

No dia 4 de Agosto de 1944, a Polícia de Segurança alemã, acompanhada por alguns holandeses nazistas, fez uma rusga no escritório geral, obrigando Kraler a revelar a entrada para o Anexo Secreto. Todos os seus ocupantes, assim como Kraler e Koophuis, foram presos.

Alguns dias depois, misturados aos jornais velhos e lixo espalhados pelo chão, um empregado encontrou os cadernos onde Anne escrevera o seu diário. Não sabendo do que se tratava, entregou-os a Miep e Elli. As duas jovens, durante um severo interrogatório alemão a que foram submetidas, negaram terminantemente a sua ajuda ao pequeno grupo judeu, e assim foram libertadas e salvas. Tendo guardado cuidadosamente o diário de Anne, entregaram-no ao seu pai, Otto Frank, na sua volta, após o fim da guerra.