sábado, 28 de novembro de 2009

O lobo e o burro coxo

Nas fábulas, o burro faz quase sempre má figura, por isso, agrada-nos contar-vos como é que um burro corajoso conseguiu meter um lobo no saco.
O nosso burro fazia girar a mó de um moinho, de manhã à noite. Era um trabalho duro e monótono, e, como se isso não bastasse, o seu dono, o moleiro, batia-lhe muito e dava-lhe pouca comida.
- Não, isto não pode continuar assim! – exclamou um dia o burro. – Na primeira ocasião ponho-me a andar daqui para fora, e se por azar o meu dono me encontrar... bem, ao menos morro de uma vez, enquanto assim vou morrendo aos poucos!
A ocasião propícia não tardou a chegar quando, uma noite, o moleiro fechou mal a porta do estábulo. De madrugada, o burro abriu a porta de par em par, fazendo o menos barulho possível, e fugiu o mais depressa que as suas patas cansadas lhe permitiam. Correu durante horas e horas e só à noite, quando teve a certeza de estar bem longe, é que decidiu descansar um pouco.
Deu consigo, então, numa pequena clareira cheia de pedras, onde cresciam uns cardos estaladiços e saborosos. Uma delícia!
«Que lugar agradável!» – disse com um suspiro de contentamento. - «Quase tenho vontade de ficar aqui para sempre. Mas que ruído é este?»
Ergueu a cabeça por entre os cardos e foi então que o sangue se lhe gelou nas veias: era um lobo. Sim, era mesmo um lobo e ainda por cima muito grande. À vista desarmada era tão grande como o vitelo que lhe fazia companhia no estábulo. Vinha atrás dele, com a cauda baixa e um ar distraído, mas via-se bem que estava pronto a saltar a qualquer momento.
«Há que ser esperto» - pensou o pobre animal. - «Seria pouca sorte se, depois de conseguir escapar às pancadas do seu dono, viesse a ser comido por este assassino.»
Dirigiu-se então para o lobo com um ar indiferente e um estranho andar coxo.
Foi o lobo o primeiro a cumprimentá-lo:
- Olá! Viva, burro. Não te conheço, és novo por aqui?
- Sim, acabei de chegar... ai! Mas teria sido melhor que não tivesse... ai! Saído de casa. Em tão pouco tempo já me aconteceram duas desgraças!
- Oh, que pena! E que foi?
- A segunda... ai! Foi ter-te encontrado porque me vais comer. Mas a primeira ainda foi pior... Ou melhor, quase que estou contente por acabar nas tuas goelas, porque assim escuso de sofrer mais...
- Conta lá, o que é que te aconteceu?
- Pisei uma silva que tem espinhos, tão compridos como as minhas orelhas, e agora estou a sofrer muito. Ai!
- Fica descansado – disse o lobo com um sorriso malicioso. – Daqui a pouco já não sentirás nada...
- Eu sei, eu sei – respondeu o burro, abanando a cabeça. – Mas não vês a diferença entre morrer com dignidade e com... ai! Com orgulho, ou morrer sobre três patas apenas? Olha, devora-me, mas primeiro tira-me este maldito espinho que se me espetou no casco. Ai, ai... Até porque pode ser perigoso também para ti, sabias? Se, quando me comeres o engolires, será um caso sério.
- E onde tens o espinho? – perguntou o lobo.
- Aqui, debaixo do casco direito. Olha!
E o burro, coxeando como ninguém, virou-se e levantou o casco. Um pouco contrariado, o lobo aproximou-se da pata do doente e começou a observá-la com atenção.
- Não consigo ver nada – murmurou o lobo.
- Mas como é possível, se me pica tanto? Ora vê melhor!
O lobo aproximou ainda mais o focinho. Agora estava a menos de um palmo do casco.
Foi uma questão de segundos. O burro equilibrou-se bem sobre as patas dianteiras e deu um coice tão forte, tão violento, que mais parecia ter sido por um boi.
O imprevidente lobo voou alguns metros. Quando se conseguiu levantar, nem a mãe o reconhecia. Para além de estar todo pisado e ensanguentado, perdera todos os dentes que tinha na boca.
- Ai, ai! – choramingava de dor, enquanto o burro se afastava sem olhar para trás. – Que dor horrível... e ainda por cima merecida. Nasci carniceiro, para que quis eu... armar-me em médico?

Moral: Nunca metas o nariz onde não és chamado.

3 comentários:

  1. Gostei muito desta fábula.

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  2. nao conhecia esta fábula
    é muito gira. podiamos a ler na aula
    eduarda 6ºH

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  3. Esta fábula retrata o eu estado de ser, parabéns.

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